Comunicação para Conviver Bem

Por que ter um site do Junana, nos perguntamos coletivamente? Já estamos nas redes sociais, já temos canais de comunicação estabelecidos para divulgar e articular ações em rede, como nossa página no Facebook e inserção em grupos no WhatsApp.

Criamos essa página digital justamente porque entendemos criticamente a presença nas redes sociais e aplicativos corporativos. Compreendemos o risco que implica jogarmos o jogo que algumas das maiores empresas capitalistas do mundo nos seduzem a jogar: criar perfis com nossas informações pessoais, entregar nossa localização, tornar nossas ações e associações coletivas mapeáveis e estar à mercê dos mecanismos de difusão determinados por algoritmos que não compreendemos.

Ter nossos dados vendidos para empresas que mapeiam nosso gostos, monitoram nossas feições, e que podem ser utilizados por órgãos de segurança pública a partir do momento em que formos identificades pelo sistema como inimigxs. Esse nível extremo de monitoramento e controle foi denunciado por Assange e Snowden – que sofreram perseguição, exílio e prisão por isso – e aconteceram em diversas manifestações e movimentos próximos de nós e de vocês. Tudo isso é muito delicado, e oferece riscos a qualquer pessoa que esteja se propondo a construir uma realidade à parte do capitalismo.

Por outro lado, entendemos a necessidade de intensificar nossas comunicações à distância, especialmente aquelas que abranjam uma multiplicidade de pessoas e coletividades ao mesmo tempo. Isso é importante para dialogar sobre o que está acontecendo à nossa volta, sobre como lidamos com as problemáticas que afetam a todes, sobre quais são as questões prioritárias do momento e, principalmente, para organizar ações sincronizadas em média e grande escala.

Essas grandes redes e aplicativos são acessíveis, amplamente difundidas, não custam dinheiro diretamente e efetivamente conectam muitas pessoas. Para aqueles que vivem distantes até mesmo de pequenos centros urbanos, como nós do Território Junana, elas são de grande ajuda para nos manter conectad@s. Contudo, são ferramentas que visam lucro e propiciam controle. Não são tecnologias verdadeiramente alinhadas ao Bem Viver.

Ainda assim, nos propomos a ocupá-las como ocuparíamos as ruas de uma cidade, ou como ocuparíamos uma prefeitura, ou como usamos um cartão de banco. Apostamos no uso estratégico das estruturas já existentes, redefinindo na medida do possível o seu propósito e encontrando brechas em sua forma de funcionamento para manifestarmos nosso modo de ser. Hackeando.

Mas seria ingênuo nos contentarmos com essa solução temporária. Se apenas jogarmos o jogo do sistema, acabaremos enredados na armadilha que ele prepara para nós. Cedo ou tarde os algoritmos mudam, e as regras do jogo que pensávamos dominar passam a se virar contra nós. Aquilo que fazíamos acontecer gratuitamente passa a ser cobrado. A mensagem que chegava a várias pessoas passa a perder-se em um labirinto surdo ou a diluir-se no costumeiro excesso de informações. Ou ainda, o que já aconteceu antes com o Orkut e outras redes, o sistema inteiro pode ser fechado e retirado do ar, deixando offline os vínculos digitais e o conteúdo arduamente construído ao longo de anos.

Eis o porquê de estarmos aqui, abrigades da chuva e dos ventos digitais sob o teto da Rede Livre. Aqui neste galpão podemos tentar ser um pouco mais quem somos, podemos alimentar nosso foguinho de chão, escrever nas paredes e transformar os gramados e terraços em hortas sem nos preocupar com o que a imobiliária vai dizer.

Plantamos as sementes de nossas palavras em terra adubada com software livre e capinada com conhecimento em rede. Nossa memória ancestral fica registrada, sempre disponível para ser contada e recontada pelas novas e velhas gerações, independente do que grandes empresas querem que lembremos ou não, vejamos ou não. Nesse velho baú guardamos nossas histórias.

Ocupamos os latifúndios da comunicação digital, mas dedicamos nossa energia de vida a criar e fortalecer nossas ilhas de agroecologia, conectadas por redes de re-existência.

Autonomia, território, conexões. A cura que buscamos requer que cultivemos nossas próprias medicinas. Bons conviveres se constroem com boa comunicação, e deixamos aqui o nosso rezo de sempre expressar aquilo que mais precisa ser dito, tecendo redes entre nossos corações.

Aguyjevete!